Em sânscrito, a palavra nada significa “música”, mas em português significa “coisa nenhuma”. Esse também é um belo significado, porque a música de que estou falando é a música do nada, a música do silêncio. Os místicos a chamaram de música não tocada.
Existe uma música que não é criada, que está presente como uma subcorrente de nosso ser; ela é a música da harmonia interior. Existe também uma música na esfera exterior – a harmonia das estrelas, dos planetas. A existência toda é como uma orquestra. Exceto pelos seres humanos, nada está fora de sintonia; tudo está em uma imensa harmonia. E por isso que as árvores têm tanta graça, e os animais, os pássaros... Somente a humanidade se tornou feia, e a razão é que tentamos nos aperfeiçoar, tentamos nos tornar algo.
No momento em que surge o desejo de tornar-se, você fica feio, sai de sintonia, porque a existência conhece somente ser; tornar-se é uma febre da mente. Os seres humanos nunca estão satisfeitos, e esse descontentamento cria a feiura, porque as pessoas estão cheias de queixas, somente queixas e nada mais. As pessoas desejam isso, desejam aquilo e nunca estão satisfeitas, mesmo se obtiverem o que desejam, elas desejam mais. O “mais” persiste – a mente segue pedindo por mais e mais. Tornar-se é a doença do ser humano.
No momento em que você abandona o tornar-se, subitamente uma música é ouvida. E quando essa música começa a transbordar, a fluir por todo o seu ser e, depois, além de você para outras pessoas, ela se torna um compartilhar. Essa é a graça dos budas. Eles estão repletos da música interior, da harmonia, e a harmonia continua a transbordar, ela também alcança outras pessoas.